domingo, 12 de janeiro de 2014

Virtualização das Relações Sociais

Tema da atividade:
Virtualização das Relações Sociais

Disciplina:
Educação e Sociedade em Rede

Questões levantadas:
Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada?

Como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua transparência? Quem a valida ou autentica? Quem o poderá fazer? A própria comunidade, a propria rede? Será pela transparência dos processos de partilha? Como e em quem na rede poderemos confiar? Como se poderá garantir a qualidade da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação?

Palavras-chave:
Redes, transparência, autenticidade, idoneidade, virtualização, qualidade, informação, relações.


Introdução:
A abordagem ao tema da Virtualização das Relações Sociais poderá ser feita a partir de perspetivas muito diferentes e recorrendo a diferentes autores. A minha abordagem ao tema procurou compreender este novo contexto de relações sociais mediadas tendecialmente pelas novas tecnologias, um contexto que é virtual e que está a influenciar a construção da identidade. Quem são estes indivíduos com quem nos relacionamos no ciberespaço?  

Novos meios de comunicação/interação, novas relações, novos papéis e contextos

O mundo contemporâneo sofre todo um processo de reorganização das experiências e da cultura devido às alterações que se verificam nas relações sociais, atualmente mediadas pela tecnologia. Na prática as novas tecnologias têm vindo a “criar novas formas de acção e interacção, e a reordenar a maneira como os indivíduos interpretam e reagem ao mundo social” ( Ferreira, 2012:186).

Esta interação é realizada a partir de janelas e ecrãs que vierem permitir ao indivíduo interpretar personalidades distribuidas por diferentes comunidades. Se até determinado período o indíviduo essencialmente foi um espetador dos novos média, tornou-se posteriormente num participante ativo, o que também veio afetar as relações humanas. Hoje manipulamos os média com um clique ou com um simples avatar inventado.

 “A internet surge como um novo meio que se vem juntar a outros meios de comunicação, como a linguagem, para dar consistência à interacção humana e à constituição e manifestação das subjetividades (Esteves, 2003:200, citado por Ferreira, 2012:186). Neste contexto muda a criação de sentidos, os critérios relativos ao momento, aos interlocutores e aos lugares, sendo as novas modalidades de virtualização o processo articulador de toda uma vida social marcada cada vez mais pela ruptura dos limites do espaço e do tempo.

Elizabeth Reid (citada por Ferreira, 2012:187) refere que no contexto das novas redes sociais se verifica a atenuação de barreiras sociais e a desinibição da comunicação. Isto significa que nestes contextos a posição social, a idade, a aparência não são condicionantes de nada e a comunicação acontece a partir de novas formas de discurso onde as barreiras construídas socialmente não têm lugar.

A internet assume-se assim como um espaço de liberdade onde os indivíduos podem experienciar novos papéis, colocar-se em contextos diferentes, a partir das quais são acionadas práticas que alteram definitivamente as condições de formação da identidade do indivíduo. No ciberespaço o indivíduo pode comunicar sem limitações de espaço e de tempo, encontrando espaços de significação que o obrigam, consequentemente, a rever a questão da identidade.

Construção da Identidade no Ciberespaço

A relação do indivíduo com o contexto social é importante para a compreensão da formação da identidade. Os individuos, enquanto sujeitos sociológicos, constroem a sua identidade na relação com outras pessoas, aquelas com quem se identificam e que são consideradas uma referência. Lévy (citado por Malveira, 2011:2) considera que a identidade se constrói na interação do indivíduo com os seus espaços de significação, sejam espaços afetivos, estéticos, sociais, entre outros.

Giddens (citado por Ferreira, 2012:186) refere-se à identidade como projeto reflexivo da responsabilidade do indivíduo. Será que as novas tecnologias e meios de comunicação e interação colaboram para tornar o processo de construção da identidade mais reflexivo e pessoal?

No contexto atual a identidade do indivíduo organiza-se em torno de imagens dinâmicas produzidas através da exploração e transformação das realidades virtuais onde poderá assumir várias identidades e “corpos virtuais” (avatares). Um avatar, ao permitir que sejamos o que queremos ser, poderá ser o meio, o contexto ou a oportunidade para  refletirmos e descobrirmos quem somos e quem desejamos ser.

 “Se tradicionalmente um indivíduo pode despir e vestir papéis diferentes em cada lugar e em cada momento concreto, o que os computadores permitem agora é vidas paralelas a que correspondem identidades paralelas” (ferreira, 2012:189).

A internet converteu-se numa espécie de “laboratório social” onde é possível “ensaiar” a construção do eu. Na realidade, no ambiente virtual, as pessoas não apenas se transformam em quem fingem ser mas também acreditam que são ou quem gostariam de ser. É, desta forma, que os novos média promovem práticas de comunicação que fomentam um sujeito instável, múltiplo e difuso, aquilo a que Ferreira (2012) chama de “Eu fragmentado”.

Na mesma linha de pensamento Malveira (2012:6) refere que “ as relações são mediadas pelas imagens construídas a partir do consumo dos signos de uma cultura global a fim de pertenciamento por identificação às mais variadas subjetividades coletivas, e dá-se conta, neste mercado global de estilos, que os demais indivíduos partilham do saber bem como da identidade: de forma fragmentada.”

À medida que as experiências do indivíduo na contexto virtual vão sendo incorporadas de modo reflexivo na construção do eu, a sua natureza vai sendo transformada. A proliferação de estilos de vida e a capacidade de criar novas personagens constituem uma forma dos indivíduos se reapropriarem e até criarem o seu modo de ser. É nesta linha de argumentação que Ferreira se refere a uma identidade dita flexível.

Turkle (citado por Ferreira, 2012:92) considera que a multiplicidade não é aceitável se implicar uma confusão mental mas aceita que a identidade seja desenvolvida enquanto multiplicidade. Esta multiplicidade, relativa às inúmeras experiências, facilitam a descoberta de si próprio e o desenvolvimento pessoal, a autodescoberta e a autotransformação.

Ferreira afirma que para existir identidade no ciberespaço é necessário, para além do eu unitário e do eu fragmentado, considerar um eu flexível.

“um eu de que a essência não é unitária, nem as suas partes são entidades estáveis, mas em que é fácil alternar entre as suas facetas, elas próprias em mutação devido à constante comunicação que mantêm entre si.” (Ferreira, 2012:195)

Turkle (citado por Ferreira, 2012:188) considera o espaço virtual como uma extensão do real onde os indivíduos podem aprender, conhecer o eu e o outro, simular e aproximar-se das verdadeiras identidades. Malveira (2011:6) refere que “ ciberespaço é um ambiente onde o virtual constitui um novo espaço antropológico, o espaço do saber”.

Comunidades virtuais e Cultura de Simulação

Rheingold (citado por Ferreira, 2012:187) remete para o conceito de comunidades virtuais que surgem, na sua perspetiva, quando um grupo de pessoas estabelece relações  com sentimento, na realidade virtual, durante períodos longos. Nestas comunidades existe partilha inteletual, riqueza de conhecimentos e “apresentam-se como suporte aos processos cognitivos, sociais, e afetivos, fazendo com que a rede de tecnologia eletrónica e telecomunicações se transmute num espaço social povoado por indivíduos que aqui (re)constroem as suas identidades e os seus laços sociais”.

As comunidades virtuais criam um contexto para pensar e repensar a identidade e abrem espaço para a descoberta do significado experiencial duma cultura da simulação.

“Quando pisamos a fronteira entro o real e o virtual, experimentamos períodos de tensão, de reacções extremas e de grandes oportunidades: momentos liminares no decurso dos quais emergem novos símbolos e significados sociais.” (Ferreira, 2012:189)

A cultura da simulação pode ajudar a alcançar uma visão de uma identidade múltipla mas integrada, cuja flexibilidade e elasticidade advém do facto de ter acesso às muitas personalidades que constituem cada indivíduo (Turkle 1997, citado por Ferreira 2012). Como refere Malveira (2011), citando Baudrillard, o indivíduo descobre-se como simulador de si e perde-se do real para dar lugar ao hiper-real e o comum torna-se espetacular.

Conclusão

O ciberespaço veio colocar os indivíduos numa posição mais nívelada na medida em que, independentemente das suas características pessoais, sociais ou espaciais, podem ser e estar onde os seus interesses os conduzirem. Não existem barreiras sociais à comunicação e às relações, qualquer indivíduo pode livremente estar e participar em comunidades virtuais porque estas vão ao encontro dos seus interesses e motivações e assumir em cada uma delas diferentes papéis. Papéis que não têm de ser opostos ou irreais mas sim complementares e resultantes de uma processo permanente de construção e reconstrução da identidade.  

Esta perspetiva do Eu Virtualizado leva-me a considerar que as relações virtuais desafiam os indivíduos a refletir, a descobrir e a interpretar o que os rodeia e isso faz com que estejam em permenente evolução. A multiplicidade caracteriza os contextos virtuais, logo o indivíduo tem a oportunidade de se rever mais facilmente em diferentes cenários e experiências, que o obrigam a posicionar-se perante essas situações.


Referências:


http://www.exedrajournal.com/docs/N6/12-CCE.pdf

http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2012/resumos/R32-1497-1.pdf

http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2011/resumos/R25-0670-1.pdf