Tema da
atividade:
Virtualização das Relações Sociais
Disciplina:
Educação e Sociedade em Rede
Questões
levantadas:
Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na
rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós
de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens
que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada?
Como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua
transparência? Quem a valida ou autentica? Quem o poderá fazer? A própria
comunidade, a propria rede? Será pela transparência dos processos de partilha?
Como e em quem na rede poderemos confiar? Como se poderá garantir a qualidade
da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa
informação?
Palavras-chave:
Redes, transparência, autenticidade, idoneidade, virtualização,
qualidade, informação, relações.
Introdução:
A abordagem ao tema da Virtualização das Relações Sociais poderá ser
feita a partir de perspetivas muito diferentes e recorrendo a diferentes
autores. A minha abordagem ao tema procurou compreender este novo contexto de
relações sociais mediadas tendecialmente pelas novas tecnologias, um contexto que
é virtual e que está a influenciar a construção da identidade. Quem são estes indivíduos com quem nos
relacionamos no ciberespaço?
Novos meios de comunicação/interação, novas relações, novos
papéis e contextos
O mundo contemporâneo sofre todo um processo de reorganização das
experiências e da cultura devido às alterações que se verificam nas relações
sociais, atualmente mediadas pela tecnologia. Na prática as novas tecnologias têm
vindo a “criar novas formas de acção e
interacção, e a reordenar a maneira
como os indivíduos interpretam e reagem ao mundo social” ( Ferreira, 2012:186).
Esta interação é realizada a partir de janelas e ecrãs que vierem
permitir ao indivíduo interpretar
personalidades distribuidas por diferentes comunidades. Se até determinado
período o indíviduo essencialmente foi um espetador dos novos média, tornou-se posteriormente
num participante ativo, o que também veio afetar as relações humanas. Hoje
manipulamos os média com um clique ou com um simples avatar inventado.
“A internet surge como um novo
meio que se vem juntar a outros meios de comunicação, como a linguagem, para
dar consistência à interacção humana e à constituição e manifestação das
subjetividades (Esteves, 2003:200, citado por Ferreira, 2012:186). Neste contexto
muda a criação de sentidos, os critérios relativos ao momento, aos
interlocutores e aos lugares, sendo as novas modalidades de virtualização o processo articulador de toda uma vida
social marcada cada vez mais pela ruptura dos limites do espaço e do tempo.
Elizabeth Reid (citada por Ferreira, 2012:187) refere que no contexto
das novas redes sociais se verifica a atenuação
de barreiras sociais e a desinibição
da comunicação. Isto significa que nestes contextos a posição social, a
idade, a aparência não são condicionantes de nada e a comunicação acontece a
partir de novas formas de discurso onde as barreiras construídas socialmente
não têm lugar.
A internet assume-se assim como um espaço
de liberdade onde os indivíduos podem experienciar
novos papéis, colocar-se em contextos diferentes, a partir das quais são
acionadas práticas que alteram definitivamente as condições de formação da
identidade do indivíduo. No ciberespaço o indivíduo pode comunicar sem
limitações de espaço e de tempo, encontrando espaços de significação que o
obrigam, consequentemente, a rever a questão da identidade.
Construção da Identidade no Ciberespaço
A relação do indivíduo com o contexto social é importante para a
compreensão da formação da identidade. Os individuos, enquanto sujeitos
sociológicos, constroem a sua identidade na relação com outras pessoas, aquelas
com quem se identificam e que são consideradas uma referência. Lévy (citado por
Malveira, 2011:2) considera que a identidade se constrói na interação do
indivíduo com os seus espaços de significação, sejam espaços afetivos,
estéticos, sociais, entre outros.
Giddens (citado por Ferreira, 2012:186) refere-se à identidade como
projeto reflexivo da responsabilidade do indivíduo. Será que as novas tecnologias e meios de comunicação e interação
colaboram para tornar o processo de construção da identidade mais reflexivo e
pessoal?
No contexto atual a identidade do indivíduo organiza-se em torno de
imagens dinâmicas produzidas através da exploração e transformação das
realidades virtuais onde poderá assumir várias identidades e “corpos virtuais”
(avatares). Um avatar, ao permitir que sejamos o que queremos ser, poderá ser o
meio, o contexto ou a oportunidade para
refletirmos e descobrirmos quem somos e quem desejamos ser.
“Se tradicionalmente um indivíduo pode despir
e vestir papéis diferentes em cada lugar e em cada momento concreto, o que os
computadores permitem agora é vidas
paralelas a que correspondem identidades
paralelas” (ferreira, 2012:189).
A internet converteu-se numa espécie de “laboratório social” onde é
possível “ensaiar” a construção do eu. Na realidade, no ambiente virtual, as
pessoas não apenas se transformam em quem fingem ser mas também acreditam que
são ou quem gostariam de ser. É, desta forma, que os novos média promovem
práticas de comunicação que fomentam um sujeito instável, múltiplo e difuso,
aquilo a que Ferreira (2012) chama de “Eu fragmentado”.
Na mesma linha de pensamento Malveira (2012:6) refere que “ as relações
são mediadas pelas imagens construídas a partir do consumo dos signos de uma
cultura global a fim de pertenciamento por identificação às mais variadas
subjetividades coletivas, e dá-se conta, neste mercado global de estilos, que
os demais indivíduos partilham do saber bem como da identidade: de forma fragmentada.”
À medida que as experiências do indivíduo na contexto virtual vão sendo
incorporadas de modo reflexivo na construção do eu, a sua natureza vai sendo
transformada. A proliferação de estilos de vida e a capacidade de criar novas
personagens constituem uma forma dos indivíduos se reapropriarem e até criarem
o seu modo de ser. É nesta linha de argumentação que Ferreira se refere a uma
identidade dita flexível.
Turkle (citado por Ferreira, 2012:92) considera que a multiplicidade não
é aceitável se implicar uma confusão mental mas aceita que a identidade seja
desenvolvida enquanto multiplicidade. Esta multiplicidade, relativa às inúmeras
experiências, facilitam a descoberta de si próprio e o desenvolvimento pessoal,
a autodescoberta e a autotransformação.
Ferreira afirma que para existir identidade no ciberespaço é necessário,
para além do eu unitário e do eu fragmentado, considerar um eu flexível.
“um eu de que a essência não é
unitária, nem as suas partes são entidades estáveis, mas em que é fácil
alternar entre as suas facetas, elas próprias em mutação devido à constante
comunicação que mantêm entre si.” (Ferreira, 2012:195)
Turkle (citado por Ferreira, 2012:188) considera o espaço virtual como
uma extensão do real onde os indivíduos podem aprender, conhecer o eu e o
outro, simular e aproximar-se das verdadeiras identidades. Malveira (2011:6) refere
que “ ciberespaço é um ambiente onde o virtual constitui um novo espaço
antropológico, o espaço do saber”.
Comunidades virtuais e Cultura de Simulação
Rheingold (citado por Ferreira, 2012:187) remete para o conceito de comunidades virtuais que surgem, na sua
perspetiva, quando um grupo de pessoas estabelece relações com sentimento, na realidade virtual, durante
períodos longos. Nestas comunidades existe partilha inteletual, riqueza de
conhecimentos e “apresentam-se como suporte aos processos cognitivos, sociais,
e afetivos, fazendo com que a rede de tecnologia eletrónica e telecomunicações
se transmute num espaço social povoado por indivíduos que aqui (re)constroem as
suas identidades e os seus laços sociais”.
As comunidades virtuais criam um contexto para pensar e repensar a
identidade e abrem espaço para a descoberta do significado experiencial duma cultura da simulação.
“Quando pisamos a fronteira
entro o real e o virtual, experimentamos períodos de tensão, de reacções
extremas e de grandes oportunidades: momentos liminares no decurso dos quais
emergem novos símbolos e significados sociais.” (Ferreira, 2012:189)
A cultura da simulação pode ajudar
a alcançar uma visão de uma identidade múltipla mas integrada, cuja
flexibilidade e elasticidade advém do facto de ter acesso às muitas
personalidades que constituem cada indivíduo (Turkle 1997, citado por Ferreira
2012). Como refere Malveira (2011), citando Baudrillard, o indivíduo descobre-se
como simulador de si e perde-se do real para dar lugar ao hiper-real e o comum
torna-se espetacular.
Conclusão
O ciberespaço veio colocar os indivíduos numa posição mais nívelada na
medida em que, independentemente das suas características pessoais, sociais ou
espaciais, podem ser e estar onde os seus interesses os conduzirem. Não existem
barreiras sociais à comunicação e às relações, qualquer indivíduo pode livremente
estar e participar em comunidades virtuais porque estas vão ao encontro dos
seus interesses e motivações e assumir em cada uma delas diferentes papéis.
Papéis que não têm de ser opostos ou irreais mas sim complementares e resultantes de uma processo
permanente de construção e reconstrução da identidade.
Esta perspetiva do Eu Virtualizado leva-me a considerar que as relações
virtuais desafiam os indivíduos a refletir, a descobrir e a interpretar o que
os rodeia e isso faz com que estejam em permenente evolução. A multiplicidade
caracteriza os contextos virtuais, logo o indivíduo tem a oportunidade de se
rever mais facilmente em diferentes cenários e experiências, que o obrigam a posicionar-se
perante essas situações.
Referências: