Lévy numa das suas obras, Cibercultura, dá-nos uma
perspetiva interessante sobre a sociedade atual, uma sociedade que mudou com a
inovação e com as novas tecnologias que vieram criar espaços e formas novas de
comunicação, de relação e de aprendizagem. Analisa as implicações culturais do
desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação. Enfatiza
a atitude geral perante o progresso das novas tecnologias, a virtualização da
informação e a mudança global.
O autor analisa este processo à luz de dois grandes
conceitos o de ciberespaço que
remete para rede, ou seja, o meio de comunicação que surge da “interconexão
mundial dos computadores”(Lévy, 2000,p.16) e o conceito de cibercultura que diz respeito às práticas, atitudes, modos de
pensamento que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.
Recorrendo a metáforas biblícas o autor compara o dilúvio informacional, característico
das sociedades atuais, com o dilúvio
bíblico e lança as questões “o que colocar na arca? Como ensinar as pessoas a
nadar? Neste caso o que interessa aqui preservar e como ensinar as pessoas a
navegar?
“Uma das hipóteses deste livro é a de que a cibercultura expressa o
surgimento de um novo universal diferente das formas culturais que vieram antes
dele no sentido que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global
qualquer. “ (Lévy, 2000, p. 15)
É levantada a hipótese de que a cibercultura leva as
mensagens ao seu contexto tal como acontecia nas sociedades orais e por
oposição ao que aconteceu com o surgimento da escrita, onde os textos se
separaram do contexto em que eram produzidos. A mensagem, na perspetiva do
autor constrói-se e entende-se na interconexão
das mensagens, através das comunidades virtuais que lhe dão sentidos
variados e uma renovação permanente.
Ao meio (ciberespaço), às práticas e processos
(cibercultura) o autor junto um terceiro conceito que aponta para o resultado,
a inteligência coletiva, que é
dinâmico e faz, através da sinergia de competências, recursos e projetos, mover
a cibercultura. Lévy entende a inteligência coletiva com o motor da
Cibercultura. Contudo, “o crescimento do ciberespaço não determina automaticamente
o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a esta inteligência
coletiva um ambiente” (Lévy, 2000, p. 29).
Lévy considera as que as “ tecnologias são produtos de uma
sociedade e de uma cultura”( (Lévy, 2000, p. 22) e que estas não são nem boas
nem más, no fundo serão aquilo que a sociedade fizer delas. Contrariamente ao
que se possa pensar a tecnologia não é, como refer o autor através de outra
metáfora, um míssil pronto a atacar o alvo: cultura e sociedade. A tecnologia é
criada para e pelo Homem, para responder às suas necessidades, a que não
significa que decorrente disso não advenham outras necessidades.
Na primeira parte do livro aqui em análise o autor analisa o
impacto cultural e social de todas as novas tecnologias, recorrendo a vário
conceitos: digitalização da informação, hipertexto e hipermídias, simulações,
realidades virtuais, redes interativas e internet. Aqui são apresentados
exemplos de cibercultura, ou seja ciberespaços onde a inteligência coletiva
poderá ser promovida.
O correio eletrónico
que permite o envio de mensagens de um para muitos, as conferências que permitem a partilha em grupo em tempo real e os sistemas de arquivo e transferência de
ficheiros são três exemplos de cibercultura para o autor. Atualmente os ciberespaços multiplicam-se
diariamente, desafiando a inteligência coletiva proposta pela cibercultura,
sendo esta a melhor forma para o autor de responder ao ritmo destabilizante da
mutação técnica.
Lévy, P. (2000) Cibercultura. Lisboa: Piaget.
Sem comentários:
Enviar um comentário